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12/26/2011

Um dia qualquer - parte 1


Magic and Mistery

Hoje o sol resolveu aparecer para esquentar meus membros gelados e para acariciar minha pele maltratada pelo vento. O frio é tanto que vesti quase todas as minhas roupas e meus pés continuam gelados como pedras de mármore.

Queria poder patinar sobre o lago dos patos – cujo nome foi empregado na última primavera quando nos deparamos com todos os patos da região se refrescando depois da longa viajem que fizeram para fugir do frio do norte –, mas é arriscado demais, temo que a crosta de gelo que habita o lago seja muito fina e acabe se quebrando quando depositado o peso de meu corpo sobre ela.
Chego á conclusão de que seria melhor ficar dentro do meu quarto onde é razoavelmente quente e onde tenho tudo que preciso para passar um dia calmo e relaxante já que fui induzida á ir para a escola oito horas por dia e depois ainda tinha que preparar o jantar para mim e para Louis, meu irmão mais novo, pois mamãe e papai trabalham na capital cerca de uma hora e meia de distancia daqui de casa e só chegavam quando a lua já ocupava seu reinado escuro, mas ao mesmo tempo iluminado por suas pequenas súditas brilhantes.
Tirei minhas botas incrivelmente pesadas, calcei minhas pantufas de ovelhinhas que em menos de cinco segundos resolveram o problema dos pés gelado. Tirei as inúmeras peças de roupas que Haia vestido mais cedo e vesti meu confortável conjunto de moletom cinza com o desenho do mascote de um time de futebol americano com tal nome que me recuso a pronunciá-lo. Devidamente vestida, ou poderíamos dizer fantasiada como “a garota que levou um fora do namorado”, desci gloriosamente as escadas certificando-me de que ninguém estivesse me vendo trajada de tal modo, entrei na cozinha, abri a geladeira olhei os suprimentos presente dentro dela superficialmente e fechei-a com tanta força que me assustei ao ver que um dos ovos que estavam na porta da geladeira se quebrara deixando fugir todo seu conteúdo gosmento nas frutas que haviam sido colocadas desleixadamente sobre uma das prateleiras da geladeira, “legal, se me perguntarem se fui eu vou dizer que foi Louis o culpado”, pensei vermelha de raiva por ter feito aquilo.
Abri os armários com esperanças de encontrar algum biscoito, mas elas foram totalmente eliminadas ao me lembrar que Louis comera o ultimo biscoito na terça-feira á noite como sobremesa após o jantar, a única coisa que me restou a fazer foi preparar alguns Waffles e um chocolate quente.
Depois de quase uma hora estava sentada com as pernas entrelaçadas sobre a cama, em uma mão existia uma xícara fumegante de chocolate quente, sobre as pernas meu livro favorito de Allan Poe e como trilha sonora uma musica qualquer do cd que mamãe me dera de natal no volume mais baixo possível, mas ainda auditivo a ouvidos aguçados como os meus.
O vento fazia a leve cortina cor “flã de morango” dançar, e o sol que se entranhava nos pontos do leve tecido da cortina faziam-me sentir estar em um sonho onde tudo era possível, menos acordar.
Beberiquei um pouco do chocolate quente e dei mordiscadas cuidadosas para que não caísse mel sobre a colcha de bolinhas azuis e quando me conta estava lendo a ultima pagina do livro, nem senti o tempo passar, me envolvi de tal forma com a historia que o fumegante copo de chocolate quente estava gelado na mesa de cabeceira e os restos dos waffles estavam murchos e inteiramente melecados de mel atraindo algumas abelhas para eles, o cd tinha parado há mais de quatro horas e o sol tinha dado espaço a uma delicada garoa.
Apesar de amar o sol e a sensação aconchegante que ele me proporciona, adoro mais ainda o céu nublado com o barulho ritmado da chuva contra a terra ensopada, barulho que ao invés de me proporcionar depressão e render um beicinho de choro por não poder sair na rua, me proporcionam a sensação de calma.
Olhei para o relógio e constatei que já se passaram da uma hora da tarde e eu nem havia almoçado ainda, imagino então, que não sentiram minha falta.
Desço as escadas pensando na desculpa que ia dar para explicar minha ausência, mas quando chego à sala não havia ninguém me esperando e na cozinha não havia nenhum prato de comida na geladeira ainda melecada de clara e gema de ovo. Subi as escadas pulando de dois em dois degraus, entrei no quarto de Louis, mas ele não estava lá “ele deve ter ido à casa de algum amigo” pensei, deduzindo cegamente a ausência de meu irmão. Desloquei-me para a porta do quarto de meus pais, mas quando abri a porta só vi Tina à gata da minha mãe em cima da cama tirando uma soneca, penso então que eles foram até a banca de frutas á um quarteirão comprar frutas frescas para o café da tarde. Não muito preocupada com o sumiço repentino de meus familiares mais próximos volto para meu quarto com a triste sensação de solidão.
Como tirei o dia para relaxar, procurei tudo que precisava para um quente banho de banheira, já munida de cremes, xampus, sais e uma caixa com uma infinidade de sabonetes, cada uma mais colorida e cheirosa que a outra, me dirijo até o banheiro, chegando lá organizo todos os frascos de cosméticos na beira da banheira, regulo a temperatura da água para a mais quente possível, sinto os variados aromas existentes e acabo escolhendo uma com formato redondo com cheiro de morango e leite, com a banheira já cheia me despi e dobrei o moletom, depositando ele por sobre a bancada da pia, tremendo horrores pelo frio mergulho meu corpo na água quente e começo a pensar nas alternativas possíveis para o sumiço dos meus familiares.

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